quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Barulho

Ouço todos os dias os mais diversos tipos de barulho. Barulho de carro, barulho de gente, barulho de cachorro, periquito, papagaio ... porquinho da índa.

Barulho de porta batendo, cortina balançando, pernas caminhando, dentes mastigando, lápis batendo, canetas sendo mordidas, páginas virando, folhas rasgando, neurônios queimando.

Ouço música, e também o que não é mas que ainda insistem em chamar. Ouço respirações, suspiros, aquele estômago roncando ... Ouço o barulho da água caindo, dos talheres no prato, dos chinelos arrastando, da descarga.

Ouço o som que o teclado faz ao escrever este post, ouço minha mente reclamando. Ouço meu sono.
Ouço os galhos das árvores batendo na minha janela, o som dos pássaros cantando, da grama sendo cortada, da parede sendo furada, das salas sendo construídas ... do mundo ao meu redor.

Pelo o que pode ver, definitivamente compartilho de todo o tipo de barulho. Mas o único que eu realmente gostaria de ouvir - e esse é raro - é o barulho do SILÊNCIO.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

" A N. Senhor Jesus Cristo com atos de arrependimento e suspiros de amor".

Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade,
É verdade, Senhor, que hei delinquido,
Delinquido vos tenho, e ofendido,
Ofendido vos tem minha maldade.


Maldade, que encaminha a vaidade
Vaidade, que todo me há vencido,
Vencido quero ver-me e arrependido,
Arrependido a tanta enormidade.


Arrependido estou de coração,
De coração vos busco, dai-me abraços,
Abraços que me rendem Vossa luz.


Luz, que claro me mostra a salvação,
A salvação pretendo em tais braços,
Misericórdia, amor, Jesus, Jesus!
                                        (Gregório de Matos)


Soneto muito bonito do Gregório de Matos, que o professor de português, Ben-Hur, nos passou na aula de hoje a respeito do Barroco.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Caricaturas

Bom gente, hoje resolvi postar aqui no blog algumas caricaturas que fiz nas férias. Espero que gostem!

                                               Este é o humorista Marcelo Adnet.

               Esta está muito engraçada! É a Tatá Werneck fazendo sua personagem Fernandona!

                         E por fim, o também humorista Paulinho Serra!

É isso. Espero que tenham gostado.

Em breve, mais caricaturas :)

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A jornada

Uffaa!! Finalmente voltei! Voltei de uma cólica renal punk ... Pedra no rim é fogo, quem já teve sabe disso.
Fiquei internada, e sinceramente, que saudades eu senti da minha vida de antes, da minha vida normal; aquela ... da qual eu tanto reclamava, e indagava ...


Quando se passa um tempo no hospital, nem que seja um dia, ou dois no meu caso (dois dias e duas noites) se percebe que sua vida é maravilhosa! Não quero ser babaca a ponto de dar uma lição de moral pra quem reclama de tudo, muito menos de proclamar alguma lição de vida, mas, enfim, gostaria de compartilhar o que senti, aqui no meu blog com o leitor.


Na minha primeira noite, após muita dificuldade para ser internada - pois a saúde pública é uma bosta - puseram-me num quartinho de teto baixo, quente e com mais oito pessoas. O quarto ficava lá no fundo da Santa Casa e cheirava a água sanitária. Estava muito enjoada, com vontade de vomitar, porém não conseguia, pois já não comia há um tempo.


Tomei soro e buscopan na veia ... minha pressão então começou a baixar por conta do efeito colateral do remédio, e minha saliva se esvaiu. A enfermeira dizia: ' Não beba água, pois te dará mais enjôo e também porque está de jejum a partir de agora. MEIA NOITE.


Durante aquela noite, sem conseguir dormir, dopada, com náuseas, deitada numa maca menor que eu em comprimento e sem  travesseiro, comecei a pensar: 'Nossa, agora eu gostaria de ter dinheiro, ao menos para pagar um atendimento decente'. Minha mãe, coitada, passou a noite sentada de mau jeito numa cadeira de plástico. E mais oito pessoas ...


Cochilava um pouco ... acordava de hora em hora. Ao fundo, respirações ofegantes, tosses, vômitos, andares, palavras de alucinações, etc. NOITE DE CÃO.
Após muito penar, finalmente chega a manhã, e com ela mais soro e mais medicamento. O cheiro era tão forte, que podia até sentir o gosto de água sanitária.


Ao longo desse dia, ainda em jejum, fiz exames, esperei, esperei, esperei, e depois esperei mais um pouco, até que me transferiram para um outro quarto, num outro andar (o E 2º), onde minha tia trabalha; ela é enfermeira. Lá as coisas eram diferentes; quartos novos, lugar limpo, e finalmente, pude me deitar numa cama com travesseiro, e não numa maca, que por falta de travesseiro, improvisou-se uma toalha mal enrolada para servir de apoio.


De hora em hora, as enfermeiras vinham medir a minha pressão, minha temperatura, e me sedar mais um pouco ... podia sentir o gosto ácido do remédio.
Levei um livro, mas o soro no meu braço me impedia de parar em uma posição boa para que eu pudesse me concentrar na história. Não havia TV, e a comida ... NOSSA! Que comida horrorosa. Uma mistura mal feita e sem sal de feijão com arroz, um pouco de chuchu frio e um frango tão duro e sem gosto, que parecia que tinha acabado de ser morto. As horas simplesmente não passavam ...


Estava chegando ao fim o meu primeiro dia no hospital, e o médico já tinha destruído toda e qualquer esperança que eu tinha de ter alta nesse mesmo dia. Novamente teria de passar pelo inferno da madrugada.
Naquela noite consegui dormir um pouco melhor, por conta do colchão mais macio e do travesseiro. Ah ... que saudades que eu sentia do meu travesseiro ...


Chega o dia seguinte, e com ele mais soro e medicamentos, um café da manhã que mal consegui engolir, e mais tédio. O médico só viria me ver no fim da tarde. Ai ... SÓ NO FIM DA TARDE! SOCORRO!
Minha vontade era de arrancar todas as agulhas e sair correndo só na ânsia de poder respirar um pouco de ar puro, fresco.


A tarde estava passando bem devagar como de costume num hospital, e até aí não tinha sentido dor alguma. Também pudera! Sentir dor estando dopada daquele jeito de buscopan era algo impossível.
Tomei banho. Minha mãe me ajudou. Ela que também havia dormido um pouco melhor, por ter ganhado uma nova cadeira, estofada. Aquele quarto era bom, relativamente. Eu passava a amá-lo quando me lembra do
outro em que estivera anteriormente.


Acabado o meu banho, meu sossego também se foi. A enfermeira veio me buscar. Precisava ser transferida para outro quarto, lá no E 1º. Fui levada por ela numa cadeira de rodas, de costas, e descendo a rampa daquele santo lugar, comecei a perceber que as coisas novamente iriam mudar. Este novo andar, pelo qual eu passaria, era mais sujo, o cheiro era fortíssimo, podia ouvir gemidos de pessoas com as doenças terminais das mais variadas. Não gostei daquilo, e a todo momento rezava para que o médico chegasse logo e me desse alta para que a minha saída daquele purgatório de almas vivas fosse definitiva. Eram quase 17h00 quando ingressei no meu próximo quarto; na minha próxima parada. Esperava que fosse a última.


Lá, para a surpresa de ninguém, havia pessoas gemendo, vomitando, idosos doentes (o que me dispertava muita pena). Minha horripilante janta chegou dali a alguns minutos. Morria de fome.Mas era tarde, nem com muita fome você é capaz de comer com alguém recebendo uma sonda e vomitando, e a outra estourando a agulha do soro e assim fazendo jorrar sangue para todos os lados. 'Não - pensei - meu estômago não é tão forte assim', e larguei o prato.


Por volta das seis, seis e meia, foi quando o médico chegou para o meu alívio. Prescreveu os medicamentos que deveria tomar, as cautelas que deveria ter daquele dia em diante, etc. Fiquei super feliz e festejei por dentro, pensando que naquele momento eu finalmente iria sair, iria para a rua, para o sol, para o oxigênio  não-tóxico e inalterado por água sanitária. Era LIVRE!


Ah ... não exatamente. A partir daquele momento, as minhas orações eram para que as enfermeiras se lembrassem da minha existência, e tirassem o soro da minha veia para que eu pudesse escapar. Esperei mais ou menos por volta de meia hora, até que uma delas teve a piedade da minha situação e finalmente me liberou.


                              UFFAAA!!!! QUE ALÍVIO!


Agora estou em casa podendo descrever através do meu blog essa jornada para vocês.
Deixo também o meu protesto a respeito da saúde pública que é uma vergonha. Ela não é de graça, não! A gente paga os impostos para que esses serviços básicos sejam prestados a nós. Porém, não é o que acontece!